ATA DA QUINTA SESSÃO ORDINÁRIA DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 27.03.1990.
Aos vinte e sete dias do mês de março do ano de mil novecentos e noventa reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Quinta Sessão Ordinária da Segunda Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura. Às quatorze horas e quinze minutos, foi constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos e determinou fossem distribuídas em avulsos cópias a Ata da Quarta Sessão Ordinária, a qual deixou de ser votada face à inexistência de “quorum”. À MESA foram apresentados: pelo Ver. Cyro Martini, 01 Pedido de Providências; pelo Ver. Edi Morelli, 01 pedido de Providências; pelo Ver. José Valdir, 01 Projeto de Lei do Legislativo n° 18/90 (Processo 0488/90); pela Verª Letícia Arruda, 02 Pedidos de Providências; pelo Ver. Luiz Machado, 01 Pedido de Providências e 01 Projeto de Lei do Legislativo n° 13/90(Processo 0473/90); pelo Ver. Vieira da Cunha, 01 Pedido de Informações; e pelo Ver. Wilson Santos, 03 Pedidos de Informações e 01 Projeto de Lei do Legislativo n° 17/90 (Processo 0482/90) Do EXPEDIENTE constaram os Ofícios: 082/90, da Fundação Metropolitana de Planejamento, e Circular 015/90, do Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul. Em COMUNICAÇÕES, o Ver. Vieira da Cunha relatou fato ocorrido, no último domingo, no Parque Farroupilha, envolvendo artesãos, feirantes e funcionários da Secretaria Municipal de Indústria e Comércio. Discorreu sobre o ocorrido, alertando se tratar de um “ato arbitrário, violento e autoritário” dos servidores daquela Secretaria. E convidou s Senhores Vereadores para reunião a ocorrer na próxima quinta-feira, nesta Casa, onde serão ouvidos o Secretário daquela pasta e servidores envolvidos naquele ato. O Ver. Dilamar Machado questionou prova prática realizada pela Secretaria Municipal de Educação, referente a concurso para o preenchimento de cargos nas escolas e creches do Município. Asseverou não compreender as razões que levaram àquela prova, segundo S. Exª, a abertura de buracos pelas candidatas, tendo em vista a natureza do cargo a que se candidataram. O Ver. José Valdir reportou-se aos pronunciamentos anteriores, ponderando que tratará de averiguar as informações trazidas pelo Ver. Dilamar Machado. Refutou declarações do Ver. João Dib, afirmando que o Partido de S. Exª não deve criticar a realização de concursos, pois praticava a modalidade de contratação de pessoal. O Ver. Luiz Braz, reportou-se aos pronunciamentos anteriores, afirmando que a prova prática aplicada pela SMED era “demasiado rigorosa para sexo feminino” e não adequada tendo em vista a função que as concursadas iriam realizar – crecheiras e merendeiras de escolas. E o Ver. Omar Ferri manifestou sua solidariedade para com o Ver. Vieira da Cunha, referindo-se ao incidente ocorrido entre os artesãos do Bric da Redenção e fiscais da Secretaria Municipal de Indústria e Comércio. Questionou os atos praticados por aqueles fiscais e leu Certidão, a qual registra acordo realizado entre aquela Secretaria, artesãos e Vereadores desta Casa e que assegura a permanência dos feirantes no local até que seja encontrada outra alternativa. EM COMUNICAÇÃO DE LÍDER, o Ver. Adroaldo Correa questionou o andamento dos trabalhos da Comissão Especial que estuda os problemas relativos aos feirantes do Bric da Redenção, asseverando que os referidos trabalhos devem ser diligentes na busca de uma alternativa para aquelas pessoas que lá trabalham sem a devida licença, posto que tal prática contraria as normas e abre precedentes de “abuso do espaço para comércio” na Cidade. E o Ver. Vicente Dutra, relatou atividades da Comissão Especial que estuda os problemas de segurança na Cidade, principalmente envolvendo a insegurança nas escolas. Enumerou dados estatísticos referentes ao assunto e anunciou a constituição de um grupo de trabalho permanente, que conta com a participação das escolas, da Brigada Militar, da Polícia Civil e deste Legislativo Municipal. Durante a realização dos trabalhos, o Senhor Presidente respondeu às seguintes Questões de Ordem: acerca da ordem das inscrições para o período de Comunicações. Às quinze horas e trinta e três minutos, nada mais havendo a tratar, o Senhor Presidente levantou os trabalhos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Solene a realizar-se hoje, às dezessete horas. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Valdir Fraga, Lauro Hagemann e Adroaldo Correa e secretariados pelos Vereadores Lauro Hagemann, Adroaldo Correa e Clóvis Brum, este como Secretário “ad hoc”. Do que eu, Lauro Hagemann, 1º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após ser lida e aprovada, será assinada pelo Senhor Presidente e por mim.
O SR. PRESIDENTE (Valdir Fraga): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão. Passamos ao período de
COMUNICAÇÕES
O SR. WILTON SANTOS (Questão de Ordem): Apenas eu gostaria da resposta à questão
formulada ontem, porque, na quinta-feira passada era período destinado às
Comunicações e não houve “quorum”, consequentemente não houve motivo para
alterar a ordem dos oradores. Eu tenho a convicção de estar correto.
Entretanto, compreendo que deve ter algum equívoco e não quero impedir a ordem
dos trabalhos de hoje com esta Questão de Ordem. Eu quero que os oradores que
estavam previstos para aquela quinta-feira possam ser depois agraciados,
incluídos posteriormente, mas não serem prejudicados, porque eu era um dos que
estavam incluídos na quinta-feira e sumi da ordem dos oradores. De forma que
essa Questão de Ordem que faço, Sr. Presidente, é no sentido de se encontrar
uma solução para o problema.
O SR. DILAMAR MACHADO (Questão de Ordem): Sr. Presidente, eu gostaria de colaborar com
a Mesa e com o próprio Ver. Wilson Santos, do Partido Liberal, porque as
Lideranças acertaram esta forma de inscrição, que é bem diferente da anterior,
em que havia uma inscrição em ordem alfabética, sem levar em conta a
distribuição das Bancadas na Casa. Então ocorria, como eu próprio alertei à
Casa, num determinado dia, 6 Vereadores do PT, outros 5 Vereadores do PDT, não
havia aquela divisão que se nota hoje. O Vereador que era do PMDB, Ver. Luiz
Machado, Verª Letícia Arruda, do PDT; João Motta, do PT; Heriberto Back, do PT;
Luiz Braz, do PTB; e Omar Ferri, do PSB, na ocasião em que se fez o acordo
entre as Lideranças para que se formasse essa nova sistemática, ficou acordado
que, quando por qualquer razão não houvesse Sessão, não haveria a transferência
das inscrições. Já que o caso de V. Exª, que é prejudicado por ser um Vereador
apenas de uma Bancada, tem a evidente compensação de ser Líder de uma Bancada e
poder utilizar seu tempo todas as Sessões. Por isso, se estou colaborando com a
Mesa, penso ter respondido ao Ver. Wilson Santos que esta decisão foi correta.
O SR. PRESIDENTE: O Ver. Dilamar Machado se antecipou e assim
colaborou com a Mesa, até por ter sido o autor da proposição nesta reunião de
Bancada. O acordo já está em mãos, conforme decisão das Lideranças. Com a
palavra o Ver. Clóvis Brum.
O SR. CLÓVIS BRUM: Sr. Presidente, não poderia ser de outra
maneira, V. Exª esclareceu, com a sapiência que lhe é peculiar, a Questão de
Ordem do nobre Vereador do PL. Não tenho nada a registrar.
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Vieira da Cunha, em
Comunicações.
O SR. VIEIRA DA CUNHA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, ocupo o
período de Comunicações para relatar aos meus companheiros Vereadores um fato
ocorrido no domingo último, no Parque da Redenção, na Av. Osvaldo Aranha. Este
Vereador tem o costume de freqüentar o Bric da Redenção aos domingos pela manhã
e lá estava quando fui chamado por um amigo para que interviesse num problema
que estava ocorrendo com alguns artesãos que expunham os seus produtos naquele
local. Chegando lá, deparei-me com uma camionete com identificação da
Secretaria Municipal de Indústria e Comércio que já se deslocava com produtos
daqueles feirantes. Havia um clima muito pesado, haja vista as denúncias que
nos fizeram de que esses servidores municipais teriam agido com violência e autoritarismo
contra aqueles feirantes. Ainda cheguei a tempo de tentar um diálogo com um
servidor da SMIC, que se identificou como sendo Edgar, no sentido de que a
minha intervenção pudesse fazer com que pelo menos as mercadorias fossem
devolvidas aos feirantes que estavam sendo expulsos do passeio da Av. Osvaldo
Aranha. Esse funcionário, que se identificou Edgar, sequer quis ouvir este
Vereador, alegando que recebia ordens do Executivo, que estava ali para
cumpri-las e que não devia satisfação a alguém que pertencia a outro Poder,
qual seja, ao Legislativo. Dada a atitude daquele funcionário, eu também não
tinha mais nada que falar com ele, apenas cientifiquei-lhe de que nos próximos
dias ele estaria sendo convocado a comparecer nesta Câmara para prestar depoimento
a respeito daquele operação que, repito, foi denunciada como arbitrária,
violenta, autoritária. Além desse servidor, estão sendo convocados o diretor da
Divisão de Licenciamento e Controle da SMIC e o Sr. Secretário da Indústria e
Comércio de Porto Alegre. Desde outubro do ano passado temos uma Comissão
formada nesta Casa com vistas a resolver o problema criado pelo conflito entre
duas feiras que existem no Parque da Redenção, aos domingos: a chamada Feira do
Bom-Fim, na José Bonifácio, e a mais recente, a feira da Osvaldo Aranha. Há um
conflito entre esses dois grupos, o grupo da Osvaldo Aranha teve por várias
vezes seu trabalho impedido pela SMIC, o que fez com que o Ver. Omar Ferri
requeresse a formação de uma Comissão Especial. Numa das reuniões desta
Comissão Especial, ficou acordado entre os Vereadores e, se não me engano, o
próprio Presidente da Casa e o Sr. Secretário, de que nenhuma providência mais
drástica seria tomada até que se ultimassem os trabalhos da referida Comissão.
Domingo último, repito, os feirantes foram expulsos com violência, com
arbitrariedade, da Osvaldo Aranha, sem que a Comissão tivesse apresentado
alguma conclusão sobre o caso. Do meu ponto de vista há um flagrante
desrespeito ao Poder Legislativo, representado por essa Comissão, daí por que
convido todos os Vereadores, independentemente de fazerem parte ou não dessa
Comissão, a comparecerem neste Plenário na próxima quinta-feira, às 10h30min,
quando, então, tentaremos resolver esse impasse, tomando o depoimento daquele servidor
que desrespeitou este Vereador no domingo e mais o Diretor e o Secretário da
Indústria e Comércio.
Aproveito
o tempo que me resta para fazer um paralelo entre a ação da Secretaria da
Indústria e Comércio, através de seu corpo de servidores, e o que temos
assistido a nível nacional. Esta mesma arbitrariedade, este mesmo sentido
policiamento nos atos. Eu particularmente estou atônito, porque simplesmente já
vi este filme antes, o mesmo filme, o mesmo apoio quase unânime dos grandes
meios de comunicação, em especial a Rede Globo, enfim este mesmo clima de
euforia nacional eu assisti há pouco tempo. E era 1986, quando até companheiros
de oposição do Governo Sarney colocaram na lapela do seu casaco um botton
se auto-intitulando fiscais do Sarney. E agora, 1990, o filme passa de novo,
alguns dirão que o ator principal mudou e que agora o ator principal é eleito
pelo voto popular. É verdade, mas eu pergunto de que adianta mudar o ator se o
filme, repito, é o mesmo, até a posição do Presidente Nacional do meu partido é
a mesma. Em 1986, dias depois do Plano Cruzado, ele ia às televisões e às
rádios do País inteiro para denunciar a farsa do que era o Plano Cruzado.
Agora, em 1990 se repete. É o primeiro a ir à rede nacional de televisão e
quase que, isoladamente, denunciar o que ele diz ser – e eu acredito que seja –
pior que o Plano Cruzado, este tal de Plano Collor. Repete até os mesmos
vícios, quais sejam: arrocho salarial, eu diria até o confisco salarial. Na
época do cruzado foi ao redor dos 25%, agora as estimativas são que o confisco
salarial seja de 50% do poder aquisitivo da classe trabalhadora, 50% significa
dizer que metade do salário da classe trabalhadora vai ser confiscado por este
programa econômico, o tal de congelamento ou, como quer o Presidente, controle
de preços se dá a partir de 12 de março, quando os preços já estavam no pico,
estavam nas nuvens. Quem não se recorda que as remarcações não eram nem
diárias, eram quase que por hora, por turno, e esses preços ficam congelados ou
controlados, como queiram, no pico e o salário da classe trabalhadora mais uma
vez controlado, mas com a metade do seu poder aquisitivo. A questão fundamental
denunciada pelo Brizola, que é a questão da essência, o âmago do problema
inflacionário, que são as perdas internacionais, permanecem intocadas por este
plano, ou seja, os interesses, os grandes interesses profissionais, o grande
capital multinacional permanece intocável. Daí porque temos absoluta convicção
de que se trata esse mais um plano eleitoreiro, que será mantido nos próximos
meses até porque há eleições em 3 de outubro. Este Plano, portanto, terá, mais
uma vez, e sentimos muito que isso aconteça, provavelmente atingidas as suas
finalidades reais, que são finalidades meramente eleitoreiras, no sentido em
que o Sr. Collor de Mello possa fazer maioria neste Congresso e seguir
governando com esse espírito autoritário e antidemocrático.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: O próximo orador é o Ver. Dilamar Machado,
pelo tempo que lhe cede a Verª Letícia Arruda.
O SR. DILAMAR MACHADO: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, assuntos
me trazem à tribuna; um de extrema gravidade, com o qual ocuparei a segunda
parte deste pronunciamento e o outro, também grave, mas com um certo aspecto de
jocosidade hilariante e envolve a filosofia de trabalho da Administração
Municipal do PT. A Secretaria Municipal de Educação, a SMED, abriu uma espécie
de concurso, na realidade não chega a ser aquele concurso público, concurso de
provas e títulos, é um concurso de aptidões, Ver. Presidente Adroaldo Corrêa,
para uma função que me parece ser auxiliar de serviços gerais, mas na realidade
é o recrutamento de mulheres da zona periférica de Porto Alegre para atuarem
como crecheiras ou como auxiliares nas escolas, merendeiras, não sei bem qual a
nomenclatura, mas é para esta função, para trabalharem dentro das escolas
públicas municipais ou nas creches municipais. Até algumas destas pessoas que
prestaram este tipo de concurso e foram aprovadas, acredito que seja uma prova
preliminar, um mínimo talvez de alfabetização, estado de saúde, estado civil,
essas coisas normais que estão dentro das características da correção do
relacionamento do poder público e os seus futuros servidores. Na semana
passada, estas mulheres que foram aprovadas neste concurso foram chamadas não
sei se por edital, mas acho que por ofício, para prestar uma prova prática e
uma destas pessoas me procurou hoje e me narrou a prova prática, ela disse que,
até entusiasmada com a prova prática, colocou o seu melhor vestido, se é
possível uma pessoa pobre, talvez moradora lá da Zona Norte, que o Ver. José
Valdir tão bem conhece, me parece que esta senhora mora no Bairro Sarandi,
próximo ao Passo da Pedras, ela colocou o seu vestido domingueiro, Ver. Brum,
talvez floreado, passou o vestido, colocou o melhor sapato, deu uma ajeitada no
cabelo e foi para a prova prática, ela e um grupo de mulheres, elas foram
colocadas dentro de um caminhão e levadas para um local ermo, local onde não há
habitação, tipo um matinho, e ali foi entregue a essas senhoras uma pá e uma
picareta e lhes foi determinado que a prova prática era cada uma delas abrir um
buraco, não era valeta, de repente, não era para fazer um trabalho comunitário,
não, era para abrir uma buraco de um metro quadrado e este buraco tinha que ter
um metro quadrado de largura mas também de profundidade, seria um metro cúbico,
não é Engº Dib? Narrou-me esta senhora que ficou muito triste, porque ela
jamais imaginou que fosse submetida àquele tipo de prova prática, mas que fez o
buraco, suou, estragou o vestido, estragou o sapato, sujou o vestido, mas abriu
o buraco. Mas uma outra senhora perdeu a vaga, porque mandou entregar uma pá
para o Sr. Olívio Dutra e a picareta para a companheira Judite e largou o
concurso, largou a aprovação preliminar. Não estou acreditando, Ver. José
Valdir, mas nesta senhora tenho que acreditar, pois é uma pessoa de bem que me
narrou este fato, até com tristeza, ela disse que abriu o buraco chorando.
O Sr. José Valdir: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do
orador.) Só quero uma informação: para que era o concurso? V. Exª tem certeza
de que é para crecheira?
O SR. DILAMAR MACHADO: Absoluta. Até o Prof. Adauto Vasconcelos, uma
pessoa atenta, que não sendo um parlamentar da Casa, gostaria de dizer a ele
que se trata de uma das pessoas que lhe encaminhei, com matrícula, aprovação no
concurso. Não lembro a nomenclatura do cargo, mas é para servente em escola
pública.
O Sr. João Dib: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do
orador.) Foi uma prova preliminar, foi uma prova para eliminar, e a próxima
seria com a foice e o martelo, para matar.
O Sr. Vieira da Cunha: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do
orador.) Não quero que V. Exª incorra num erro, concordo com tudo que V. Exª
afirmou, mas o Ver. José Valdir fez a pergunta, e eu estive, também,
acompanhando uma dessas provas práticas, junto à Av. Beira Rio, fiz questão de
ir pessoalmente, porque me chegavam muitas denúncias a respeito disto, vários
servidores que fizeram este concurso são celetistas do DMLU. Eu, então, fui
acompanhar uma prova prática destas, e me chamou a atenção que é no local onde
será construído o Centro de Convenções da ADVB, e pensei: será que já estão
usando o pessoal para dar início à construção do Centro da ADVB? E achei que
isto não seria possível. E me informaram os fiscais da Prefeitura que ali
estavam sendo abertos buracos para testar a aptidão dos concursandos, mas que a
seguir eles próprios fechariam os buracos abertos por eles.
Me
afastei do local e fui procurar o edital desse concurso. E aí eu quero
responder ao Ver. José Valdir, se V. Exª me permitir. O edital do concurso é
para contratar operários, tanto na Administração Centralizada, como também para
o DMLU, e aí não operários, mas garis. Mas veja V. Exª, Ver. Dilamar Machado,
que é para contratar pelo regime de CLT, quando a Constituição Federal
determina claramente, a nossa Lei Orgânica que vai entrar em vigor terça-feira,
também determina regime jurídico único para os serviços públicos municipais. E
eu pergunto a V. Exª, por que concurso para contratar pela CLT, se logo mais
adiante terá que ser aplicada a Constituição Estadual e a Lei Orgânica, e todos
terão que ter o regime jurídico antes?
E
mais Vereador, os servidores celetistas da Prefeitura estão sendo iludidos por
estes concursos, porque já são celetistas, alguns até estáveis e estão fazendo
concurso na ilusão, por parte da própria Administração de que serão efetivados
se passarem pelo concurso. Isso é iludir os operários porque o concurso é para
a CLT. E nenhum dos que passaram vai poder ser efetivado pela simples razão de
ter feito concurso.
O SR. DILAMAR MACHADO: Agradeço ao Ver. Vieira da Cunha. Na
realidade é um aspecto importantíssimo e sério, mas é outro aspecto e eu acho
que merece atenção da Casa e os Vereadores têm razão. Se o concurso fosse para
gari, para operário da SMOV, evidentemente eu não estaria nesta tribuna
chamando atenção da Casa, é óbvio que quem vai trabalhar de operário, trabalhar
com uma picareta, acho que tem que ter aptidão. Agora uma senhora, Ver. Brum,
que está sendo concursada para trabalhar numa creche ou numa escola, não tem
nexo.
Eu
estou chamando a atenção dos companheiros do PT, que eu tenho certeza que pela
formação humana e política, ideológica, dos companheiros aqui presentes, eles
vão levar ao Prefeito Olívio Dutra esta comunicação que eu estou fazendo com
tristeza.
O Sr. João Dib: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do
orador.) A Cidade está esburacada, aí de repente se faz um concurso e mandam
abrir mais buracos para depois fechar. Mas todos nós sabemos que toda terra
retirada de um buraco ninguém consegue colocar tudo no mesmo lugar. Então agora
nós teremos buracos e calombos.
O SR. CLÓVIS BRUM (Questão
de Ordem): Recebi com profunda tristeza esta denúncia de V. Exª de que se
instala em Porto Alegre um tipo de regime forçado para que mulheres possam
trabalhar na Prefeitura, quando sabemos que existem muitos locais em que
operárias desempenham suas funções e que não precisam trabalhar com pá, abrir
buracos. Mas de qualquer maneira quero me solidarizar com V. Exª e com essas
pessoas que considero vítimas desse brutal serviço forçado. O mais interessante
seria o Prefeito mandar tapar os buracos e não abrir mais buracos na Cidade.
O SR. DILAMAR MACHADO: Quero deixar esta informação na Casa como uma
colaboração e dizer de público que eu não acredito que esse trabalho forçado,
essa abertura de buracos por mulheres candidatas às escolas tenha sido
determinação nem do Prefeito Olívio Dutra e nem da Secretária de Educação,
Ester. Acredito que tenha sido ordem de alguém que não tinha direito e nem
competência para tanta brutalidade e desfaçatez com pobres operárias da
Prefeitura. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Adroaldo Corrêa): Com a palavra o Ver. José Valdir.
O SR. JOSÉ VALDIR: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, eu fui pego
de surpresa pela denúncia do Ver. Dilamar Machado exatamente por considerá-lo
um tribuno sério. Por isso, vou me comprometer de averiguar suas denúncias,
pois, afinal de contas, não tenho motivos para duvidar das colocações e das
intenções justas e corretas do Ver. Dilamar Machado ao trazer aqui estas
denúncias. O Vereador denuncia que, num concurso na SMED, para merendeiro de
escola, as pessoas que prestam o concurso, mulheres no caso, estejam fazendo
uma prova que nada tinha a ver, se eu entendi bem a colocação, com a
especialização ou cargo para qual elas estão tentando se credenciar. A prova a
que estão submetendo as companheiras não teria nada a ver com a função
pretendida. Eu acho que, se, de fato, a SMED está exigindo, para uma
merendeira, que, afinal de contas, tem que entender alguma coisa de culinária,
que abra buracos, evidentemente que não tem nada a ver. E eu me comprometo aqui
a averiguar se realmente esse concurso está sendo feito desta forma e, se
confirmado, concordar como Vereador que nada tem a ver. Agora, eu gostaria de
ponderar outras questões a respeito desses concursos e responder às insinuações
do Ver. João Dib.
O Sr. Décio Schauren: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do
orador.) Eu também tinha recebido esta denúncia e fui averiguar. E o que eu
soube, da Secretaria da Administração, é que este concurso era, de fato, para
operário e todas as pessoas sabem quais são as funções de operário. Uma delas é
abrir buracos. Acontece que, no Brasil, sempre tem o famoso “jeitinho”. A
pessoa faz o concurso para operário, mas depois não quer exercer as funções de
operário. Então, muitas pessoas se inscreveram, mesmo sabendo que operário abre
buraco, mas pensando que depois fariam outra coisa. Então, o que acontece com a
Prefeitura? Ela abre um concurso para operário. Precisa de gente que vá abrir
buracos na rua e não tem este tipo de operário. Este é o problema que está
acontecendo. Por outro lado, se a Prefeitura dissesse que mulher não pode se
inscrever, seria uma discriminação, porque alguém pode me dizer que mulher não
tem aptidão para abrir buracos. Mas eu acho que muitos homens também não têm
aptidão e, portanto, não deveriam se inscrever. Fui informado de que isso aconteceu.
O SR. JOSÉ VALDIR: Agradeço ao Ver. Schauren, e bem que eu
estava desconfiado de que tinha maracutaia nessa história, porque isso é
histórico na Cidade, pessoas de mãozinha fina que estão para se formar em
medicina prestam concurso para gari, e depois não exercem a profissão. Isso
aconteceu em várias ocasiões. Agora, o Ver. Dib nem pode fazer essas
insinuações, porque, pelo que lembro, ano passado foi realizado o primeiro
concurso, em 23 anos, para funcionário de escola no Estado; nesses 23 anos a
Arena, o PDS, o Sr. Amaral de Souza, o Sr. Jair Soares, estiveram no Governo do
Estado e nunca fizeram um concurso para funcionário das escolas do Estado,
razão pela qual, por exemplo, havia lá na minha escola, a Santa Rosa, pessoas
se aposentando contratadas com salário de miséria, que nunca tinham tido
oportunidade de fazer um concurso. Mas não adianta chamar o Ferronato, Ver.r
Dib, porque com todas as críticas que possa ter ao Governador Simon, ele fez
agora, há pouco tempo, depois 23 anos. Mas a prática do PDS, da antiga Arena,
no poder, não era a salutar prática do concurso, tanto que no magistério
estadual, levantamos na época do Gov. Amaral de Souza a bandeira do concurso
anual para professor, porque o PDS não costumava fazer concurso para nomear, para
contratar pela porta dos fundos. Evidente até botavam “um Prof. José Valdir” lá
nos cafundós do Judas, onde ninguém queria ir, para justificar os cupinchas nas
posições mais adequadas. Essa era a prática do PDS, que agora, através do Ver.
Dib, vem aqui fazer críticas. Até concordo que o Dilamar tenha a legitimidade
para fazer essas críticas. Agora, o PDS, vir criticar que o concurso está mal
feito... Pode estar mal feito, mas está sendo feito. Mas o PDS nunca fez
concurso público para as escolas do Estado do Rio Grande do Sul.
Ver.
João Dib, V. Exª tem o aparte com todo prazer.
O Sr. João Dib: Sou grato pela atenção de V. Exª, mas eu
posso com orgulho e muito orgulho até, dizer que na minha Administração, nos
meus 999 dias de Prefeito não entrou ninguém na Prefeitura sem ser concursado.
Não sei se hoje pode ser repetido isto pelo atual Prefeito.
O SR. JOSÉ VALDIR: Ver. João Antônio Dib, V. Exª fala como
Prefeito e eu falo de V. Exª como um dos grandes nomes da antiga Arena, do PDS.
Agora para V. Exª parece que o PDS só existe em Porto Alegre, não existiu no
Governo do Estado. Quer dizer, V. Exª, na hora H não assume o que o seu partido
fez, a nível de Estado, e é muito fácil chegar aqui e criticar, dizer que o
concurso não está bem feito. Agora, nós estamos fazendo concurso, coisa que, a
nível pelo menos do Estado, no seu governo não foi feito.
Então
eu quero fazer estas colocações para que não venha aqui o Ver. João Antônio Dib
passar por defensor de concurso, que nunca fez. E, em segundo lugar, eu gostaria
de responder ao Ver. Dilamar Machado, sinceramente não depreendi das suas
palavras esta conclusão negativa, mas quero alertar porque elas podem se
prestar a isso, porque da forma como fica enfatizando a mulher que colocou o
melhor vestido para fazer um concurso, isto pode, Vereador Dilamar Machado, ser
mal interpretado como uma posição extremamente machista. Digo isto com toda a
tranqüilidade. As minhas tias, até hoje, pegam um boi, colocam no arado,
lavram, fazem qualquer tarefa ou trabalho que o homem faz. E tão bem feito
quanto o homem. Agora, se as operárias vão prestar concurso para operário,
evidentemente que vão disputar com o homem, em igualdade de condições,
prestando os mesmos testes. Se elas vão prestar concurso para motorista de
ônibus, elas vão fazer as mesmas provas que os homens fazem. E por trás das
palavras do Ver. Dilamar Machado existe uma coisa inconsciente, um ranço
inconsciente – que eu percebo – de um machismo incrustado. Porque esta história
de vir aqui endeusar a mulher, dizer que é uma flor é para “compensar” –
Vereador – por aquilo que nós combatemos, que é a sua discriminação na
sociedade. Uma sociedade que por um lado discrimina a mulher, massacra a
mulher, a destrói como pessoa e depois fica com belas palavras chamando de “flor
de beleza” para compensar. Isso é uma posição Vereador, com todo o respeito,
subconscientemente machista. No mínimo subconscientemente.
(Revisto
pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Luiz Braz, de vez que o
Ver. Heriberto Back não se encontra presente.
O SR. LUIZ BRAZ: Sr. Presidente e Srs. Vereadores eu estava de
passagem aqui pelo Plenário quando percebi que o assunto era o concurso público
realizado pela Prefeitura Municipal para a contratação de garis. O Ver. Dilamar
Machado diz que ocupou a tribuna no momento anterior.
O Sr. Dilamar Machado: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do
orador.) Eu até ia pedir um aparte ao Ver. José Valdir, mas como ele enveredou
pelos caminhos de Freud, talvez ele explique, o Ver. José Valdir não vai
conseguir, eu até me retirei por que é impossível, quando nós estamos apenas
tratando de um desvio de conduta da Administração, que eu quis colaborar,
mostrando que, mesmo que fosse um concurso para gari é inadmissível que se
pegue um homem, uma mulher, um branco um preto que vai trabalhar de gari,
capinar canteiros e mandar abrir buracos. Isto não é função de gari e muito
menos é função de merendeiras de escolas. E o que eu tratei foi exclusivamente
do caso de mulheres que estão fazendo concurso para merendeiras de escolas
públicas do Município de Porto Alegre e que foram levadas a abrir buracos de um
metro quadrado como prova prática, e tem que ir até o fim. O próprio Ver. José
Valdir, num momento de rara lucidez, no início do seu discurso, admitiu que não
é função de merendeira abrir buracos. Mas de qualquer forma, tudo o que ele
disse eu recebo como uma manifestação de carinho e não sei se sou machista,
talvez V. Exª também seja, é uma questão do homem do Rio Grande. Agora, que eu
gosto de mulher, gosto, e até demais.
O SR. LUIZ BRAZ: Ver. Dilamar, eu tenho uma admiração muito
grande pela luta do Ver. José Valdir, acompanhei essa luta em muitos momentos,
lá na Zona Norte da Cidade, apenas não concordo com algumas colocações feitas
pelo Ver. José Valdir e muito embora eu não tenha participado da ARENA, pois
quando me filiei a um partido político foi ao antigo MDB, quando o Ver. José
Valdir veio à tribuna e fez críticas à ARENA e ao PDS, eu vi que ele cometia
pelo menos uma falha. Porque Vereador disse que quando a ARENA ou o PDS iam
nomear um professor, como é o caso do Ver. José Valdir, mandavam o cidadão lá
nos cafundós, lá pelos interiores, onde ninguém queria ir. Mas acontece que há
um segundo momento que não foi analisado pelo Ver. José Valdir. Existiu um
instante na vida profissional do Ver. José Valdir em que alguém da ARENA ou do
PDS ou do governo, apanhou esse Vereador lá no interior e trouxe aqui para a
capital. Qual é o relacionamento do Ver. José Valdir com esses líderes da ARENA
ou do PDS que transformaram o professor nomeado para o interior num dos
professores grandes líderes aqui da Capital do Rio Grande do Sul? Num primeiro
momento eu concordo que a nomeação lá para os cafundós foi muito utilizada em
relação ao cidadão que não pertencia ao partido, que não tinha vínculo nenhum
dentro do partido, que não tinha apoio nenhum dentro do partido, agora, quando
era trazido para cá é porque alguma coisa a mais havia. Eu não consegui
entender esse vínculo Vereador.
O Sr. José Valdir: Eu vou-lhe explicar. É que em São Sebastião
do Caí, lá nos cafundó do Judas, para onde me enviaram, nós estávamos
conseguindo fazer, na escola, um trabalho de conscientização e botando, para o
setor jovem do MDB, as filhas do Dr. Bruno Cassel, que era o cacique da ARENA daquela
região. Então, o que ele fez? “Tirem esse cara daqui e mais alguns professores,
mandem para Porto Alegre, porque eles vão-se diluir na grande Cidade”. Fomos
colocados lá porque era os cafundós do judas e viemos para cá por perseguição
política!
O SR. LUIZ BRAZ: Aplaudo essa figura do PDS ou da ARENA que
trouxe V. Exª para cá, para o Rio Grande do Sul, porque admiro sua luta. Acho
que Porto Alegre ganhou com a sua vinda para cá. Apenas era uma análise que eu
ficava devendo quando alguém me perguntava por que o Vereador havia retornado
para Porto Alegre com tanta facilidade. Agora, Ver. Dilamar Machado, se ser
machista é querer colocar a mulher no seu devido lugar, porque a mulher nasceu
com alguns atributos que não são os do homem, se ser machista é fazer essa
divisão, prefiro ser machista até o fim da minha vida. Acho que a mulher, pelo
menos na nossa civilização, não nasceu para fazer trabalho braçal,
principalmente, como colocava o Ver. Dilamar Machado, uma mulher que fez
concurso para merendeira, que está muito longe daquele tipo de trabalho árduo
para o qual foi destinada. Aliás, acredito que não apenas a merendeira, mas
qualquer mulher, a não ser aquela que o Ver. José Valdir colocava como exemplo,
aquela que é criada num serviço braçal e por estarem acostumadas a esse tipo de
tarefa não estranham quando lhes destinam tarefas mais árduas. Agora, 99% das
mulheres desta Cidade ou 99% das mulheres deste País não estão acostumadas a
pegar a picareta para abrir buraco. Realmente, o Prefeito Olívio Dutra fez uma
inovação, ele quis transformar Porto Alegre num oriente médio, ou ele pensou
que a civilização do Oriente Médio, a qualquer instante, poderia ser colocada
ou poderia transformar a nossa civilização numa civilização tipo a do Oriente
Médio e cometeu um equívoco, porque a própria sociedade, não apenas aquelas
mulheres que estavam lá com picaretas, que se sujeitaram a fazer aquele tipo de
teste, elas não tinham uma outra opção ou elas se sujeitavam a fazer aquele
tipo de teste e provar que poderiam fazer o serviço tão bem quanto qualquer
homem ou então elas estariam desclassificadas. Então, foram obrigadas e
realmente esta sujeição que sofreram estas mulheres foi criticada por toda a
sociedade. Eu mesmo pude participar de um programa da Rádio Pampa...
O Sr. Omar Ferri: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do
orador.) O meu aparte tem o sentido da curiosidade. Eu gostaria que V. Exª me
explicasse o porquê da comparação com as mulheres do Oriente?
O SR. LUIZ BRAZ: Acontece o seguinte: eu não conheço o Oriente
Médio como algumas pessoas que já visitaram o Oriente Médio, mas nós podemos
ver em algumas reportagens que saíram em revistas e alguns jornais que no
treinamento de guerra, em algumas regiões, as mulheres têm um tratamento mais
ou menos igual aos homens, parece que é isso?
O Sr. Omar Ferri: Nobre Vereador, na Palestina onde mulheres e
crianças lutam lado a lado na defesa sacrossanta de seu território sagrado.
O SR. LUIZ BRAZ: Pelo menos as revistas e os jornais quando
mostravam as reportagens de lá mostravam com esta conotação do serviço militar,
mas me perdoem se eu feri algum tipo de sentimento. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O
SR. PRESIDENTE: O próximo
orador é o Ver. Omar Ferri.
O SR. OMAR FERRI: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, não vou
falar sobre concursos, muito menos sobre buracos, mesmo porque esta não é a
minha especialidade, prefiro falar naquilo que sempre falei, nas denúncias que
sempre fiz; nas denúncias que sempre formulei; prefiro falar nas violências
praticadas contra a pessoa humana, prefiro falar de autoritarismo, prefiro
falar de repressão, pois, se não estou enganado, conheço um pouco esse terreno;
conheço pela luta de muitos anos quando ainda vigia a ditadura militar neste
País. Venho à tribuna prestar minha inteira solidariedade ao Ver. Vieira da
Cunha, solidariedade a um Vereador que na minha opinião foi desrespeitado, até
diria, será que poderia empregar este termo a por um “esborro” do funcionalismo
municipal. Estive verificando a nossa legislação, especialmente as leis que
vinculam o Vereador à Administração do Município, acho que temos a obrigação de
colaborar e auxiliar o Poder Executivo no desempenho de suas atividades, e
dentre esses desempenhos o que mais se salienta, evidentemente, é a obrigação e
o poder que o Vereador tem de fiscalizar, e em fiscalizando ele estará
prestando contas ao povo do mandato que ele recebeu. Exatamente nesse sentido
de colaboração para resolver os problemas de ordem social e de ordem pública
que se abatem sobre esta Cidade e quando a gente fala de autoritarismo e de
arbítrio eu pediria vênia para usar um outro termo e dizer que domingo pela
manhã os artesãos que desde junho ou julho do ano passado exercem suas
atividades na Av. Osvaldo Aranha nesta Capital foram vítimas de uma racio
policialesca e de repente fiscais da SMIC desceram de uma camionete, 5, 6, 7 ou
8 fiscais da SMIC desceram de um veículo e “manu
militari” deram um prazo de 5 minutos e ordens peremptórias para que os
expositores e artesãos da Av. Osvaldo Aranha desaparecessem do local. Duas
senhoras demoraram um pouco para retirar suas mercadorias e infelizmente em
virtude desta demora tiveram essas mercadorias apreendidas. O Ver. Vieira da
Cunha que se encontrava próximo ao local, visitando o artesanato da Feira do Bom-Fim
foi chamado por um popular e notificado do que estava ocorrendo. E tendo se
dirigido aos fiscais que estavam já entrando em uma camionete para irem embora
– o Ver. Vieira da Cunha está presente, poderá confirmar ou não as minhas
palavras – pediu que eles tivessem calma e que lhe fosse dado o direito de
conversar, de debater ou dialogar sobre o assunto, mas os fiscais não atenderam
o Vereador e usaram uma expressão um pouquinho humilhante para nós Vereadores,
dizendo que não dariam nenhuma importância a nenhum Vereadorzinho, pelo menos
fui informado pelas artesãs que lá expunham suas mercadorias. Agora sinto e
lastimo imensamente que isso venha a ocorrer e digo que a feira que se localiza
hoje na Osvaldo Aranha nasceu do fato de que num determinado momento houve uma
espécie de infiltração na Artefim, feira da José Bonifácio, a SMIC retirou
essas pessoas da José Bonifácio e as colocou na Av. Osvaldo Aranha. Por pressão
da Artefim, a SMIC notificou essas pessoas para saírem de lá. Os Vereadores
foram procurados, principalmente este que ora manifesta solidariedade ao Ver.
Vieira da Cunha. E usou desta tribuna para reclamar, sob a invocação de que
todos eram iguais perante a lei e que todas as pessoas têm o direito do livre
exercício de suas profissões. E que seja dado, pelo menos, o direito de
sobrevivência a qualquer cidadão deste País.
Mas
não houve entendimento. E num determinado momento do mês de dezembro do ano
passado, por convocação do Presidente desta Casa houve uma reunião. E nesta
reunião estavam presentes os Vereadores: Wilson Santos, Omar Ferri, Artur
Zanella, Isaac Ainhon, Nelson Castan, Vieira da Cunha, Vicente Dutra, Edi
Morelli, Adroaldo Corrêa, Flávio Koutzii, Lauro Hagemann e Clóvis Brum. Nesta
reunião compareceu a Artefim, entidade representativa dos expositores da Av.
José Bonifácio, e o Sr. João Carlos Vasconcelos, digno Secretário da Indústria
e Comércio.
Autoridade
Administrativa que (Lê.)
“
...se declarou disposta a concordar com a permanência dos artesãos em causa no
local reivindicado, o passeio da Av. Oswaldo Aranha, entre o Auditório Araújo
Viana e o Bar “Luar Luar”, até que fosse estudada uma melhor solução por
Comissão Externa da Câmara, instituída em 30 de outubro de 1989,...”
Pois
a Câmara de Vereadores instituiu uma Comissão Externa para estudar, debater e
analisar o problema. Esta Comissão Externa tem este Vereador como Presidente e
o Ver. Vieira da Cunha como relator.
Então
não posso entender, não entro no mérito e é bom que a Bancada do PT anote a
minha posição, eu não estou entrando no mérito se eles devam ou não ficar lá.
Entendo que o Ver. Vieira da Cunha também não entrou no mérito, apenas invocou
que havia um documento que lhes concedia em caráter preliminar o uso daquele
local, até que uma nova destinação lhes fosse dada. Não entramos no mérito do
problema. Não sabemos por que carga d’água a SMAM imagina que naquele local,
que é praça pública, não devam se localizar os artesão, mas oferecem o Parque
Marinha do Brasil que também é uma praça pública. Então não dá para entender,
Ver. Vieira da Cunha. Eu sinto que as palavras dadas não sejam mantidas. E
sinto que em decorrência desse tipo de posicionamento a Administração Popular
vem gradativamente perdendo a sua credibilidade pública. Não quero debater, nem
polemizar, só anoto essa circunstância e esse fato. E apelaria ao Sr. Prefeito
Municipal, ao bom senso administrativo para que desse uma ordem imediata ao meu
amigo João Vasconcelos, porque isso não é motivo de criar inimizades. Não é. É
o motivo apenas de manter a palavra, e essa é a nossa súplica.
Termino,
Sr. Presidente, apelando ao bom senso da Administração Municipal, cujo Prefeito
é um homem que entende de sentimento, de caráter humanitário e pessoal. Por uma
questão até de sobrevivência num País em que impera a fome e a miséria, para
que dê ordens ao Secretário da SMIC para que se autorizem os artesãos da José
Bonifácio a permanecerem no local até deliberação final. Sou grato.
(Revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, em Liderança, pelo PT, o Ver.
Adroaldo Corrêa, por cinco minutos.
O SR. ADROALDO CORRÊA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, realmente,
o episódio foi produzido desde uma iniciativa mediadora da SMIC em relação ao
Bom-fim, que localizou artesão que usualmente não tinham a licença e expunham lá
a permanecer provisoriamente na calçada da Osvaldo Aranha do Parque
Farroupilha, Redenção. Objetivamente, a SMAM tem uma política de uso específico
do próprio para o fim destinado: a praça é de uso coletivo. Objetivamente, a
comissão que citou o Ver. Omar Ferri, solicitada por ele, reuniu-se e trouxe
esse documento do Secretário Municipal da Indústria e Comércio dizendo que,
sim, até uma nova alternativa ser encontrada a provisoriedade seria mantida.
Isto foi em dezembro, nesta reunião para a qual foi designado e não participei,
porque estava votando o regimento interno da Constituinte que estamos
elaborando, mas não discuto que tenha produzido aquele resultado. Mas só aquele
resultado e aquela reunião de uma comissão especial da Câmara Municipal de Porto
Alegre para estudar um caso emergente de dificuldade de trabalho, de
dificuldade de exposição de atividades produzidas. Mas só aquela reunião! Por
que só aquela reunião? Hoje, 27 de março de 1990, meses depois que os artesãos
que têm direito a trabalhar e expor seus produtos estiveram em outros locais
trabalhando e expondo fora do Município, alguns se desarticularam de suas
lideranças que aceitaram locais alternativos e não constituíram uma força no
seu sindicato para junto reivindicar local alternativo para o coletivo de 80 e
90 que ali na Osvaldo Aranha se estabeleciam e que permitiram, inclusive, os
artesão inorgânicos com direito justo ao trabalho, com direito inegável à
sobrevivência pelo trabalho, permitiram o confronto novamente, como em julho do
ano passado se estabelecia, de uma atividade estar sendo localizada do ponto de
vista de contrariar normas de uma Prefeitura, de uma cidade que tem um conjunto
de relações com normas que precisam ser executadas. E tem que reconhecer o
Prefeito o direito ao trabalho e ao exercício livre desse trabalho. Agora, em
qualquer lugar? A qualquer hora? Para qualquer fim? Inclusive somos
solicitados, diária, semanal, mensalmente, por outros comerciantes que, olhando
aquele tipo de comércio, abusam do direito de uso do espaço e pedem para expor
automóveis no Parque da Redenção. Então, esta Comissão tem que se reunir,
urgentemente, aproximar-se mais amiúde da questão, encaminhar um processo
acelerado de resolução das dificuldades dos trabalhadores, mas tem que se
reunir, mesmo que eu não participe, como não participei da primeira, mas que
apresente resultados e propostas objetivas, de localização alternativa, e que a
alternativa seja estudada pelos artesãos, e que faça, como a Bancada do PT, que
se reuniu com as lideranças de 80 daqueles artesãos da Osvaldo Aranha. E se
estudou o Parcão, e se estudou a Praça da Alfândega, e se estudou o
estacionamento do Parque Marinha do Brasil. Mas não foram aceitos pelo
conjunto. Obviamente, o mercado, no verão, para o artesanato, desarticula
inclusive a Feira do Bom-Fim, tradicional de 10 anos. E, neste intervalo, as
alternativas não foram aceitas. Eu sou amigo pessoal de vários artesãos, fui
artesão, tenho relação com essas pessoas, conheço a necessidade de trabalho de
quem se dedica ao artesanato, mas não se pode culpar o Prefeito por isto, ou o
seu Secretário, que buscaram soluções. É preciso discutir o mérito, sim, não dá
para discutir só o episódio. O que diz respeito ao Ver. Vieira da Cunha não
pode ser aceito, comungo com a visão dele de que o Vereador tem que ocupar o
seu espaço na Cidade e merece o respeito de todo o funcionário público, até
porque defendemos, aqui, o funcionário público e seu melhor vencimento. Mas não
nos aproximamos tão superficialmente do problema. Nós também temos culpa, na
Câmara de Vereadores. Muito obrigado.
(Revisto
pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Valdir
Fraga): Com a palavra o Ver. Vicente Dutra.
O SR. VICENTE DUTRA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, por
iniciativa de alguns Vereadores desta Casa e com aprovação unânime de todos,
foi constituída, no início do ano passado, a Comissão Especial para estudar os
problemas de segurança. Sempre é bom lembrar que, embora não seja competência
direta municipal, a questão da segurança, ou insegurança, como queiram, é um
problema que afeta diariamente esta Casa. É muito difícil um dia que um
Vereador não receba solicitações e informações relativas a esse assunto que é
angustiante. Foi constituída a comissão que é presidida por este Vereador,
tendo como Vice-Presidente o ilustre Ver. Ervino Besson que acompanha com
entusiasmo, trazendo uma contribuição muito grande à comissão, graças a sua
experiência, e tem como Relator o Ver. Edi Morelli, integrada por outros
Vereadores, Omar Ferri, Wilson Santos, Vieira da Cunha e Décio Schauren. A
comissão ouviu vários setores da sociedade porto-alegrense, do Estado, a
Brigada Militar, a Polícia Civil, estivemos, numa manhã, na Brigada Militar, no
Centro de Operações para entender como funciona aquele comando de operações da
Capital, posteriormente, estivemos no Centro de Operações da Polícia Civil, com
o Del. Bonet, e lá tomamos conhecimento da forma como opera a Polícia Civil na
segurança da Capital. Dados nos foram trazidos, guardei um, 17 mil ocorrências,
em Porto Alegre, no ano de 1988, atendidas pela Brigada, sem contar a Polícia
Civil, mas no andamento dos trabalhos da comissão, e tendo a participação da
Secretaria de Educação e Cultura, a comissão foi se voltando para um fator de
segurança na Cidade, dos mais graves, e que atinge uma das áreas mais sensíveis
da sociedade, e que diz respeito ao desenvolvimento deste País, que é a área da
educação. Recebemos informações das mais diversas, relativas a assaltos às
escolas localizadas, por exemplo, na agronomia, e que até outubro do ano
passado haviam sido assaltadas 27 vezes, e agora tem mais cinco meses, então,
já deve estar pelos 35 assaltos; este ano 70 escolas foram assaltadas, e
poderia dizer, e disse, ontem, ao Governador, que certamente a este número nós
poderíamos acrescentar mais 500 ocorrências tipo assalto, que lamentavelmente
não são trazidas aos órgãos de informações ou porque não acreditam na polícia
ou porque não acreditam na Brigada ou porque a professora não tem tempo, porque
toda a queixa deve ser feita lá no local do Distrito. Ou simplesmente porque
têm medo. Acho que a maioria da não levada de informação aos órgãos competentes
é por medo, porque as gangues fazem um cinturão de insegurança ao redor das
escolas, ameaçam os professores, os alunos e realmente o medo é um componente
humano que deve ser avaliado também. Com base nesta realidade toda a comissão
sugeriu, inicialmente ao Município, mas depois se verificou que tinha órgãos no
Estado e deveria partir do Estado a constituição de um grupo de trabalho
permanente para que este grupo de trabalho pudesse ao redor de uma mesa de
trabalho ouvir e receber as reivindicações, as mais variadas que certamente
virão, através das escolas, para dali daquela mesa agilizar a solução para
aqueles casos. Soluções que seriam buscadas, por exemplo, um bico de luz que
está faltando em frente a uma escola. Que isto, como se sabe, é um fator de
segurança. Então, comunica ao grupo de trabalho e o grupo de trabalho vai
agilizar, rapidamente, ao setor competente da Prefeitura, que deve o Sr.
Prefeito dar determinação para que seja agilizado rapidamente e este bico
deverá ser ligado o mais rápido possível. O ônibus que está atrasando e expondo
os passageiros, no caso alunos e professores das escolas, aos assaltantes. E
sem contar, evidentemente, a ocorrência dos traficantes, que nós sabemos hoje
assolam as escolas. Ontem pela manhã tínhamos uma reunião com a presença do
Ver. Ervino Besson, Ver. Zanella, o Ver. Cyro Martini e Edi Morelli e com a
nossa presença o Governador acolheu todas as reivindicações e ontem mesmo à
tarde envia um telex, dirigindo a mim, como Presidente da Comissão, dizendo que
já destacou o Major Ramiro Postal, Chefe do Estado-Maior do Comando de
Policiamento da Capital, para representar a Brigada Militar nesta comissão. E o
Delegado Luiz Carlos Muniz, Diretor do Centro de Operações, e mais um
representante da Secretaria de Educação e Cultura, Prof. José Darci Costa. É um
encaminhamento e ficou combinado com o Sr. Governador que a instalação deste
grupo de trabalho permanente a mais um conselho que ficaria reunido
periodicamente com a composição da Câmara, esta instalação se daria aqui na
Câmara de Vereadores em homenagem a esta Casa onde surgiu a idéia desta briga
dos Vereadores para que esta Comissão fosse constituída. Então, em situação
oportuna vamos combinar uma data para que seja instalada a Comissão juntamente
com a Câmara de Vereadores. Sou grato.
(Revisto
pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Nada mais havendo a tratar, declaro
encerrados os trabalhos da presente Sessão.
(Levanta-se
a Sessão às 15h33min.)
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